GUIA BÁSICO DO MINIMALISMO PARA PREGUIÇOSOS

Olá, meu nome é Iara e sou preguiçosa. E minimalista.

Há uns dois anos conheci o movimento “lixo zero” através da Cristal Muniz do Blog Uma Vida Sem Lixo e da loja Mapeei, para a qual dei uma pequena contribuição na construção através de um site de arrecadação coletiva. Sou também sou filha de uma mãe que trabalhou com sustentabilidade e meio ambiente por trinta anos, então tem uma influência mesmo que inconsciente.

Só que nesses dois últimos anos eu fui mais ativa nas descobertas, procuras e um tema foi se juntando ao outro até chegar no Minimalismo e nas Tiny Houses. Por trás de tudo isso, estive (e ainda estou) procurando entender melhor o movimento minimalista contemporâneo. Adotei para mim o que funcionou e resolvi criar e compartilhar um Guia Básico do Minimalismo para Preguiçosxs – vai que alguém se identifica.

Uma observação importante: minimalismo não é obrigatoriamente ter uma casa sem móveis e viver somente com uma muda de roupa preta. Aliás, pode até ser. Mas esse é só um tipo de prática que se enquadra numa mudança maior de mentalidade e comportamento, que é a mais importante.

Agora, nesse momento de pandemia global, o isolamento em casa traz um paradoxo mais evidente: uma preguiça de precisar desinfetar tudo que chega da rua e a pressa por uma vacina e mudanças urgentes e sistemáticas da nossa sociedade.

Mas vamos a um guia para, quem sabe, ajudar nesse processo.

 

1. Comece por algo fácil (pra você)

Para mim, em julho de 2018, eu decidi – não lembro muito bem porque, mas lembro que foi algo deliberado – não consumir mais garrafas plásticas, principalmente de água mineral, compradas na rua. Acho que foi o tal dado assustador de que em 2050 teremos mais plásticos do que peixe nos oceanos. 

Eu já tinha costume de levar uma garrafinha de água comigo na bolsa, mas era sempre de plástico, reaproveitando e enchendo uma que tinha comprado. Como a vida útil dela era bem curta, acabava comprando outra e essa virava mais um lixo que eu nem sabia para onde ia.

Então comecei a usar uma garrafinha minha, enchendo de água quando saía de casa ou do trabalho. Essa mudança foi tão básica para mim e eu só precisei, naquele momento, me preocupar com um objetivo: tirar garrafa de água de plástico da minha vida. Uma vez que aquilo tornou-se hábito, foi a semente que eu precisava para me perguntar: que outra embalagem plástica eu posso deixar de usar ou comprar?  Eu me deparei com um mundo de descobertas sobre plásticos de uso único e os dados ínfimos sobre reciclagem.

Redescobri lojas a granel, sacolas de pano, potes de vidro, garrafas de alumínio. Aprendi a levar comigo sempre uma caneca para a reunião e não tomar café naqueles malditos copos de isopor,  entre tantas outras mudanças não tão complexas assim. Meu cérebro ficou treinado e meu modo automático virou outro.

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2. Os produtos multifunção

Quando meu cérebro foi reprogramado para simplesmente parar de comprar aquela água na rua quando dava me sede (eu já tinha na bolsa), comecei a me interessar e pesquisar como poderia me desfazer da quantidade de embalagens plásticas que tinha em casa, principalmente dos produtos de limpeza. Eram tantos, para cada “necessidade” diferente. Mesmo para mim, que moro sozinha em um apartamento pequeno e que nem precisava de tantos. Mas eram sete tipos diferentes. Foi quando, nessas navegações pela internet em que vamos abrindo abas e abas, vi o vídeo da Jout Jout com a Cristal Muniz fazendo sabão multiuso. E assim descobri também os produtos à base de vinagre de álcool

Lembra da preguiça? Todos são produtos muito fáceis de produzir, porque é basicamente isso, misturar e pronto: você tem dois ou três produtos de limpeza para casa e para roupa que fazem TUDO. E não mais 7 produtos (cheios de químicas nocivas para o meio ambiente e para nós) com embalagens de plástico.

 

3. A moda do uniforme

Com esses produtos de limpeza eu lavo minhas roupas, que chamo carinhosamente de uniformes. Pesquisando mais sobre minimalismo, tem gente muito mais radical que só usa as mesmas cinco camisas, duas calças e tá lindo. Ou tem também o conceito de armário-capsula, separado por estação do ano. Eu acabei adotando o meu próprio modelo. Há cinco anos atrás, vi uma matéria que ficou na minha cabeça: uma mulher que havia passado a trabalhar de “uniforme”, alternando peças dentro das mesmas cores e estilo. Desde então, passei (e ainda passo) por um processo que consiste em conhecer mais a minha personalidade através das roupas, o que eu gosto, o que me sinto melhor vestindo, como cores neutras que combinam entre si, principalmente roupas atemporais, lisas e monocromáticas. Definitivamente não é para todo mundo e tudo bem. Mas foi nessa caminhada que parei de comprar fast fashion.

Descobri brechós, marcas pequenas e locais e doei muita coisa que não usava, mesmo já não tendo um guarda-roupa tão grande assim. Passei a ir a festas, ao trabalho, a ficar em casa e a viajar com as mesmas roupas. Ainda tenho aquela peça ou outra que não consigo desapegar e uso pouco, mas amo mesmo meus uniformes. Melhor vestimenta para preguiçosos, não há.

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4. Intencionalidade

Durante minhas pesquisas sobre o maravilhoso mundo do minimalismo descobri sobre intencionalidade. Para uma agnóstica, isso caiu como uma luva quase espiritual. Colocar intenção no que você faz, no que você tem, no que você consome pode parecer óbvio, mas é superpoderoso. E essa talvez seja a chave do minimalismo.

É sobre ter intenção e sair do modo automático que somos colocados dentro de sistemas opressores, poluentes, da lógica da escassez, do exagero, da posse, do ter. Ter intenção é libertador. É viver mais o presente e vejo como algo muito prático, atributo louvado por uma pessoa preguiçosa.

 

5. O privilégio da preguiça

Ao me assumir preguiçosa, estou também olhando para o meu privilégio de pessoa branca, cis, magra “padrão”, classe média alta, que vive em cidade grande. Preguiça não é para todo mundo. Poder começar algo de forma “preguiçosa”, não é para todo mundo. É para poucos, eu diria. Quase toda a noite em que eu tenho um ótimo sono de 10 horas seguidas (nem disse que eram 12 horas, vai), lembro desse privilégio.

Esse pequeno guia talvez seja só uma provocação para mim e espero gerar alguma reflexão em você que está lendo, pois precisamos acelerar nosso passo e nos preparar para uma mudança de era. No lugar da preguiça como algo negativo, podemos olhar para o minimalismo como a oportunidade de termos a pausa, o descanso, o ócio, e, sim, da preguiça, como parte da experiência plena coletiva da humanidade, mais conectada com a natureza, com o planeta onde vivemos. 

 

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Por Iara Velloso Poppe
Carioca, 37 anos, pisciana e designer. Trabalho com pesquisa e comunicação, sou recém-admiradora de Tiny Houses e estou em busca de uma vida com menos posses e mais leveza. 

 

 

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